Mobilidade 100% elétrica sobre duas rodas

 

Vera Rita é Ceo e co-fundadora da WATT – Electric Moving, a primeira marca portuguesa, exclusivamente dedicada à comercialização de motas elétricas, criada em 2019. Em conversa com a Líder, deu a conhecer quais os desafios da mobilidade 100% elétrica e sua relevância no desenho de cidades mais inteligentes e mais verdes, sobre duas rodas.  

Cada vez mais a mobilidade elétrica está na agenda das sociedades e das organizações. De que forma estão os portugueses a aderir às práticas e comportamentos “verdes”?

A adoção à mobilidade elétrica em Portugal tem sido gradual, mas sente-se uma preocupação cada vez maior por parte das organizações e dos particulares em conduzir veículos mais sustentáveis. Esta preocupação tem sido ainda mais forte com o escalar da crise energética, com as empresas e os consumidores, em geral, a procurarem soluções de mobilidade que sejam avançadas tecnologicamente, mas mais limpas e eficientes.

Quais são os principais obstáculos que ainda existem? 

Os valores de aquisição dos automóveis elétricos ainda são muito elevados, por isso a WATT ajuda quem quer dar um primeiro passo rumo à mobilidade elétrica, através de soluções mais económicas, como são as scooters e motas.  Os incentivos do Fundo Ambiental ainda são muito baixos, em Portugal, quando comparados com os apoios estatais em França ou em Espanha. Com esta ajuda, o nosso país vizinho conquistou uma das maiores quotas de motas elétricas da Europa. Aqui, o apoio é de apenas 500€ o que, por si só, não estimula ninguém a trocar uma mota de combustão por uma elétrica. Depois existe muita desinformação, com a ideia de que as motas elétricas ainda não têm performances idênticas às de combustão, ou de que a autonomias são muito baixas. 

Como surgiu a Watt Moving?

A inspiração para a Watt-Electric Moving surgiu, há cerca de sete anos, quando experimentámos pela primeira vez uma scooter elétrica. Eu e o Deodato do Ó tínhamos feito uma viagem a Berlim e percorremos toda a cidade numa scooter elétrica que nos cederam num programa piloto de mobilidade elétrica do hotel. A sensação de entrar com a mota e estacionar dentro do lobby do hotel foi impagável! Fez-nos pensar como seria se, em Portugal e em Lisboa, onde vivemos, houvesse mais soluções de mobilidade silenciosas, económicas e amigas do ambiente. 

Quais as vantagens e desvantagens, se existem, de optar por veículos, como motas e bicicletas, 100% elétricas?

 As vantagens são evidentes: a neutralidade em emissões de CO2, as baterias extraíveis que se carregam em tomadas domésticas como um simples telemóvel e o custo de utilização muito mais económico, a par da manutenção mais reduzida do que nos veículos convencionais, são as principais razões que levam as pessoas a procurar este tipo de solução. Mas as vantagens não se ficam por aqui: as autarquias terão muito a ganhar se promoverem mais as motas elétricas como meio de transporte para os cidadãos que fazem deslocações médias: a menor ocupação do espaço público (quando comparadas com os automóveis), regras bem definidas de circulação para as motas (quando comparadas com as trotinetes) e menos ruído e poluição no centro das cidades. Na WATT defendemos, por exemplo, que todas as empresas de distribuição, como a Ubereats ou a Glovo, só deveriam usar motas e bicicletas elétricas nas suas entregas.

Que conselhos dão para quem ainda tem dúvidas na mudança de passar de combustão para 100% elétrico? 

Venham fazer um test drive, experimentem a fluidez e facilidade de condução das motas elétricas e deixem-se render, como milhares de outras pessoas em Portugal, já fizeram, a estas opções mais inteligentes para as deslocações urbanas.

Quais os desafios que identificam na área da mobilidade elétrica, em Portugal, para 2023? 

A rede pública de carregamento devia ser aumentada em número de postos, mas devia também adicionar a possibilidade de carregamento simples a 220V, para que os utilizadores de motas pudessem também carregar os seus veículos nestes locais. A crescente procura por parte dos consumidores, combinada com a escassez de componentes, ainda não impactou muito a mobilidade elétrica de duas rodas, porque nunca tivemos, até ao momento falta de stock. Mas este é um desafio que poderemos ter de enfrentar no próximo ano, pelo que já estamos a acautelar-nos e contaremos com novidades em termos de lançamentos no próximo ano. Para já, a mobilidade elétrica segue a bom ritmo e sobre (duas) rodas!

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